domingo, 28 de fevereiro de 2016

A, ante, após, até... A regência das preposições

Para finalizar a semana dos verbos, vamos cruzá-los com um outro tema: as preposições. Lembram-se das preposições, que em crianças éramos obrigados a saber de cor?

a, ante, após, até, com, contra, de, desde, durante, em, entre, para, perante, por, salvo, sem, sob, sobre, trás.*

Deixadas muitas vezes para o nosso subconsciente e para o nosso conhecimento interiorizado da língua, as preposições - e as locuções prepositivas, que são muitas mais do que as acima apresentadas - são uma categoria gramatical fundamental, na medida em que exprimem relações entre partes interdependentes de uma oração.

Normalmente, e dada a sua natureza relacional, só em casos raros é que as preposições surgem isoladas: tipicamente são seguidas de um nome ou de uma frase/oração.

- Fui a Paris (nome).
- Preciso de cortar o cabelo (frase).

Como é evidente, não serve este texto para explicar tudo o que há para saber sobre preposições. Pelo contrário, vamos cingir-nos àquelas que estão sempre associadas ao tema da semana, os verbos.

Numa frase, a maioria dos verbos surge obrigatoriamente associado a certas funções sintáticas (como por exemplo, o sujeito, o objeto direto, o objeto indireto, etc). Por isso, deles se diz que têm uma estrutura argumental.

Alguns verbos têm apenas um argumento, o sujeito (nascer) - quando o único argumento é o sujeito, chama-se argumento externo, porque se situa fora do predicado. Há muitos verbos com dois argumentos, o sujeito e o objeto direto (comer). Outros têm três, o sujeito, o objeto direto e o indireto (dar). Nestes dois casos, os argumentos objeto direto e indireto são internos ao verbo, pois fazem parte do predicado.

- O menino nasceu.
- O Pedro comeu bolachas.
- O Rui deu um livro à Ana.

É aqui que surge o fenómeno linguístico que interessa a este artigo: certos verbos "exigem" que os seus argumentos sejam iniciados por preposições. Nos exemplos acima encontramos logo um desses casos.

- O Rui deu um livro à Ana (contração do artigo a com a preposição a).

Acontece que existem verbos que selecionam o chamado complemento oblíquo, que é obrigatoriamente iniciado por uma preposição em particular. É o caso dos verbo gostar (de), depender (de), conversar (com), morar (em).

- A Maria gosta de chocolate.
- A empresa depende de créditos.
- O professor conversou com os alunos.
- Ele mora no Porto.

Um outro caso clássico de regência de preposições: os chamados verbos de movimento, que podem selecionar uma de várias preposições.

- Eu quero ir em direção ao mar. (locução prepositiva)
- Eles vão para Lisboa.
- Nós vamos até ao Porto.

Não existe nenhuma regra por detrás da regência das preposições. Trata-se apenas de uma propriedade lexical de base dos próprios verbos - e que nada tem que ver com a própria sintaxe da frase.

É precisamente a questão da regência das preposições que leva a erros como a estratégia cortadora em frases em que os constituintes não estão na sua "ordem natural", como já referimos neste blog.


* A lista apresentada é constituída pelas chamadas preposições simples do português, segundo a Gramática da Língua Portuguesa (2003). Chame-se, no entanto, a atenção para outras palavras com "caráter relacional" "indiscutível", referidas por Cunha e Cintra (1984), como afora, conforme, consoante, durante, exceto, fora, mediante, menos, não obstante, salvo, segundo, senão, tirante, visto.

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