quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

E se nós ensináSSEMOS a conjugar os verbos?

Retomamos o tema da semana - os verbos - para explicar um pouco mais sobre os tempos verbais. No post anterior, referimos os modos e as modalidades a que se associam. Hoje, vamos aprofundar a questão da conjugação verbal e endereçar um erro grave, mas infelizmente comum na escrita.

Ao contrário de outras línguas, como o inglês, o português tem conjugações variáveis por pessoa e número, normalmente esquematizado no tradicional eu/tu/ele/nós/vós/eles - há, portanto, três pessoas no singular e outras três no plural. 

Além disso, convém não esquecer que, do ponto de vista da conjugação, os verbos se dividem em regulares e irregulares. As alterações de conjugação verbal, em verbos regulares, consistem numa diferente terminação da forma verbal. A raiz do verbo, por assim dizer, fica igual. 

Assim, com verbos terminados em -ar, no Presente do Indicativo, por exemplo, a forma verbal acaba em o/as/a/amos/ais/am; com verbos terminados em -er, a forma verbal acaba em o/es/e/emos/eis/em; e com verbos terminados em -ir, acabam em o/es/e/imos/is/em

Imagem: alunosonline.com.uol.br

E podemos continuar a lista por aí fora, com os demais tempos verbais do Indicativo (a saber, o Pretérito Perfeito Simples - eu cantei; eu comi; eu parti -; o Pretérito Imperfeito - eu cantava, eu comia, eu partia; o Futuro - eu cantarei, eu comerei, eu partirei, etc.).

O Conjuntivo

Tirando algumas exceções - como a segunda pessoa do plural (vós), que está cada vez mais em desuso e que leva a que muitos falantes não a saibam conjugar - o problema da conjugação não está no modo Indicativo, mas sim no Conjuntivo. 

Tal como todas as línguas do mundo, também o português tem palavras homófonas. E quando essas palavras são graficamente representadas, através da escrita, surge muitas vezes confusão, sobretudo em falantes com menor nível de escolaridade. 

Como vimos no post anterior, o Conjuntivo surge, tipicamente, em construções associadas à expressão de dúvida, de possibilidade ou de incerteza. Por exemplo, em frases condicionais, iniciadas por "se". Há três tipos de frases condicionais: a primeira, em que se usa o Presente do Conjuntivo, a segunda, em que usa o Imperfeito do Conjuntivo, e uma terceira, em que se usa um tempo composto, que não vamos por agora analisar. Caso não se lembrem destas coisas, porque são matéria dada ainda no ensino primário e que nunca mais é retomada, talvez se recordem das If Clauses (Type I, II e III) das aulas de inglês, dadas bem mais tarde. O valor semântico de cada uma delas, neste momento, não interessa. Importa, isso sim, conjugar bem cada tempo verbal:


Imagens: alunosonline.com.uol.br

Resumindo o que está na primeira tabela, no Presente do Conjuntivo (Subjuntivo para falantes do português do Brasil), conjuga-se com e/es/e/emos/eis/em em verbos terminados em -ar; a/as/a/amos/ais/am em verbos terminados em -er; e a/as/a/amos/ais/am em verbos terminados em -ir.

Foquemo-nos agora no Imperfeito do Indicativo, que é o que causa a maioria das asneiras. 

- Se eu vendesse casas, teria imenso sucesso. 

Esta é uma frase condicional com Imperfeito do Conjuntivo, na primeira pessoa do plural. Infelizmente, vendesse soa parecido a vende-se (embora nem sequer sejam exatamente homófonas, por causa da acentuação - o verbo no Imperfeito do Conjuntivo lê-se como se fosse "vendêsse"). Mas quantas e quantas vezes já não encontrámos disparates do tipo se eu vende-se ou se eu canta-se e por aí fora? Pois. Vende-se ou canta-se são verbos que estão no Presente do Indicativo - têm, por isso, valores semânticos e usos completamente diferentes e escrevem-se assim porque têm um clítico em posição de ênclise - um fenómeno que este blog também já explicou

Esta é uma das consequências de um certo abandono das questões linguísticas mais básicas no ensino, à medida que este avança, e só prova que a linguística nunca devia deixar de fazer parte dos programas de educação da língua materna - da mesma forma como nunca deixa de fazer parte nos programas de língua estrangeira. 


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