domingo, 3 de abril de 2016

O que vai querer saber sobre os tempos do passado

Ontem escreveu-se aqui sobre o Presente do Indicativo, hoje abordam-se os dois principais tempos do  passado do modo Indicativo em português: o Pretérito Perfeito e o Imperfeito.

No post anterior, vimos a diferença entre estados e eventos - ou situações não-dinâmicas e situações dinâmicas. Nos tempos do passado, a sua influência difere.

O Pretérito Perfeito é, por excelência, um tempo verbal que dá, efetivamente, informação de tempo passado (anterior ao momento da enunciação). Isto tanto é válido para estados como para eventos.

- Eu comi uma maçã.
- Eu estive doente.

O primeiro exemplo é um evento; o segundo, um estado. Em ambos, temos a informação de que uma situação ocorreu - e terminou - antes do momento da enunciação. Aqui reside uma das maiores diferenças entre o Pretérito Perfeito e o Imperfeito do ponto de vista temporal: o Pretérito Perfeito é um tempo terminativo, ou seja, dá informação de que a situação foi concluída no passado.

O Imperfeito, pelo contrário, nem sempre dá a informação de que a situação está concluída. O exemplo que se segue, retirado da Gramática da Língua Portuguesa (2003), demonstra isso mesmo:

- A Maria lia o jornal quando a Joana chegou.

Por esta frase, não conseguimos perceber quando a situação "a Maria ler o jornal" terminou. Isto tem uma outra consequência: ao não dar informação nem sobre o início nem sobre o fim das situações. o Imperfeito parece ter a propriedade de "alargar" as situações, isto é, de as fazer parecer mais duradouras.

No exemplo acima, dá a ideia de que a Maria esteve a ler o jornal durante algum tempo - indefinido - no passado.

O Imperfeito de cortesia e o Imperfeito no futuro

No post que anunciou o tema da semana, referiu-se o Imperfeito como o tempo verbal que mais usos tem. É que, na verdade, nem sempre o Imperfeito é usado como um tempo do passado. Na verdade, há situações em que nem tem sequer informação de tempo.

É o caso do Imperfeito de cortesia, de que já aqui falámos. Quando vamos ao café e dizemos "queria um café", estamos a usar este tempo verbal apenas porque parece mais educado do que dizer "quero um café", que soa mais como uma ordem do que um pedido.

Estranhamente, o Imperfeito também pode ter uma projeção de futuro, seja em frases condicionais ou em frases com adverbiais como amanhã, que dão essa leitura temporal.

- Se a Rita chegasse a tempo, íamos ao concerto.
- Amanhã ia falar consigo ao escritório.*




* Exemplos retirados da Gramática da Língua Portuguesa (2003)

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