sexta-feira, 15 de abril de 2016

2 - Há / à / a

Este é um erro particularmente irritante. Em boa verdade, deve haver muito poucas coisas mais irritantes do que ler textos escritos por alguém que consegue confundir estas três pequenas partículas. Por diversas razões, mas sobretudo, porque é não é um erro de primária: é um erro de primeira classe. (ou de primeiro ano, para quem quiser).

Mas vamos lá então explicar as restantes razões. Em primeiro lugar, as três palavrinhas pertencem a classes diferentes.

- é uma forma verbal pertencente ao verbo haver. Se o leitor já souber isto, achará óbvio e pode passar à frente. Se não souber, repita 1000 vezes para si e não se volte a enganar. E acrescente que o verbo haver tem o mesmo significado de existir. Há, então, dois usos primordiais para o há: o primeiro está relacionado com a ideia de existência; o segundo com a ideia de tempo [passado].

           - Há um senhor que está ali doente. [ou seja, o senhor existe, está ali].
           - Há muito tempo; há um ano; há uma semana...

Se não for isto que quer dizer, não invente e deixe o "há" em paz.

À é uma contracção do artigo definido a com a preposição a. Recuemos, então: o artigo definido, que é variável em género e número, precede um nome (a Maria; a menina; a boneca) ou é o primeiro elemento de um sintagma nominal (a minha filha; a linda boneca). A preposição, como qualquer outra, é um elemento relacional, i.e., serve para ligar dois elementos numa mesma oração ou numa mesma frase, elementos esses que são dependentes entre si (vou a Lisboa; a uma semana da viagem, fiquei doente). Assim, usa-se a contracção à quando queremos dizer as duas coisas (artigo e preposição) ao mesmo tempo.

           - Vou à costureira. [Vou a(prep) a(art.) costureira]

Assim sendo, se por acaso costuma dizer algo do tipo "À dois anos", bata com a cabeça nas paredes umas quantas vezes para nunca mais se esquecer que, nesse caso, tem de usar .

- A distinção é bastante fácil e prende-se com o papel da preposição a. Quando usamos "há" sem ser com sentido de existência no momento da enunciação, esta forma verbal remete para o passado, daí expressões como há muito tempo atrás, etc. Pelo contrário, vimos num dos exemplos acima que a preposição a surge em construções com projeção de futuro (embora não seja ela que dá informação temporal de futuro, apenas significa que faz parte de uma construção frásica que tem essa leitura):

            - A uma semana da viagem, fiquei doente [falta uma semana para a viagem (futuro) e eu fiquei doente];
            - Vou a Lisboa [ainda não fui, logo irei no futuro; aqui, a preposição a pode ser substituída por até, por exemplo]

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