Hoje vamos continuar a estudar questões problemáticas sobre concordância verbal. Na semana passada vimos que a concordância verbal se faz entre o sujeito e o verbo, porque o português é uma língua cuja sintaxe é dominada pelo sujeito - mesmo quando o sujeito é nulo (ou seja, quando não é expresso foneticamente).
Hoje vamos perceber que há certos casos em que isso não acontece. Para isso temos de recuar um pouco até às funções sintáticas. Já falámos no sujeito, que é o argumento externo, e no predicado e nos seus argumentos internos, que tanto podem ser objeto direto, indireto ou complemento oblíquo (quando é iniciado por preposições).
Ora, quando temos verbos do tipo ser, parecer, continuar, estar, ficar, etc., o argumento interno do verbo chama-se o predicativo do sujeito, porque está a conferir uma propriedade qualquer ao sujeito. Seja lá o que for, se estiver precedido do verbo ser, está a predicar o sujeito de alguma coisa.
- Os alunos são inteligentes.
- Eles parecem boas pessoas.
Uma nota: o predicativo do sujeito não aparece apenas com o verbo ser; mas o verbo ser seleciona sempre um predicativo do sujeito.
Então, há alguns casos em que, com o verbo ser, a concordância não se faz com o sujeito, mas sim com o predicativo do sujeito.
1 - Se o sujeito for aquilo, isto, nada, tudo, geralmente seguido de uma oração relativa restritiva.
- Aquilo que sempre quiseste foram férias na praia.
- Aquilo que sempre quiseste foi um cão.
2 - Em frases interrogativas, começadas por pronomes interrogativos como quem ou que.
- Quem são estas pessoas?
3 - Se o sujeito não se referir a pessoas, a concordância pode ser feita com o predicativo do sujeito:
- O meu orgulho são os meus filhos.
[Reparem na agramaticalidade na concordância com o sujeito:
*O meu orgulho é os meus filhos.]
4 - Com nomes de sentido coletivo.
- A maioria são mulheres.
[Novamente:
*A maioria é mulheres.
Sobre esta frase, claro que é possível reestruturar esta frase de modo a ter concordância com o sujeito, até porque a expressão a maioria é tipicamente conjugada no singular, como já vimos noutro post, mas aí já não é bem o predicativo do sujeito. Veja-se:
- A maioria é composta por mulheres]
Tudo uma questão de medida
5 - Ainda no escopo do verbo ser, lembram-se de vos ter dito (no mesmo post no link imediatamente acima) que se o sujeito indicar uma quantidade ou uma medida, é essa medida que determina se o verbo está conjugado no plural ou no singular? Pois, como é costume, há uma exceção de que não falámos na altura.
Então, o exemplo que dei nesse post foi:
- Um litro de leite custa 1 euro.
- Dois litros de leite custam 1 euro.
No entanto, a concordância não se faz com o sujeito se a seguir ao verbo estiverem expressões como muito, pouco, menos de, mais de, etc, porque, de uma maneira geral, esses advérbios de quantidade funcionam como predicativo do sujeito.
- Dois quilos de farinha é muito/pouco/demais.
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