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Essa conexão pode ter diferentes valores semânticos: podem ser de mera listagem (e, além disso, em primeiro lugar), de contraste (mas, pelo contrário, contudo), etc. - atenção, os exemplos que acabo de citar não esgotam, nem por sombras, todos os conetores (nem todos os tipos de conetores) que existem em português! Os valores semânticos que aqui nos interessam são os de causa/consequência e os de razão/motivo (terminologia da Gramática da Língua Portuguesa de Mateus et alii, 2003).
Ambos surgem em orações causais. Veja-se:
- Há neve na serra, porque tem estado muito frio. (causa)
- O Pedro foi à serra, porque há neve. (motivo)
Ora, até aqui é tudo relativamente simples. A coisa começa a complicar quando surgem frases interrogativas. Como não podia deixar de ser, há diversos tipos de interrogativas.
Vamos começar pelas chamadas interrogativas parciais. Trata-se de frases que são marcadas por aquilo que a Gramática da Língua Portuguesa (2003) chama de "constituintes interrogativos", também apelidados de pronomes ou de advérbios interrogativos, entre outras denominações. Porque, onde, como ou quando são alguns exemplos de advérbios interrogativos. Acima referi que os conetores podem ter uma natureza adverbial. Este é o mesmo caso, mas aplicado a interrogativas.
O Ciberdúvidas da Língua Portuguesa dá uma explicação, que eu pretendo aqui clarificar. Diz o portal que o advérbio interrogativo surge "ligado ao verbo" em orações interrogativas diretas. Mas o importante não é estar ligado ao verbo - na verdade, todos estes constituintes estão sempre ligados ao verbo. Importa referir que quando se procura focalizar a causa, usa-se porque como advérbio interrogativo. Assim sendo, se eu quiser transformar o exemplo que usei acima numa frase interrogativa, ficaria:
- Porque há neve na serra? [Porque tem estado muito frio].
Por outro lado, nem só de advérbios/pronomes interrogativos se constituem as frases interrogativas. Pode haver constituintes que são iniciados por uma preposição. Exemplos: com quem falaste?, ou de quem gostas?; e, aqui sim, temos por que - sozinho ou seguido dos nomes razão ou motivo. No fundo, por que - separado - equivale a por qual (razão ou motivo). Neste caso, por é uma preposição e apenas o que é que é o pronome interrogativo.
Assim, quando o valor semântico é o de motivo, o mais provável é encontramos o morfema por que e não porque.
Do mesmo modo, quando temos frases declarativas em que explicamos o motivo ou razão de alguma coisa, também usamos o morfema separado por que. Há um teste simples. Se substituirmos por pelo(a) qual e continuar bem, usamos por que. Por exemplo:
- A razão por que mudei de casa foi o meu novo emprego.
Nota: porquê (acentuado) escreve-se sempre tudo junto.
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